quinta-feira, fevereiro 22, 2007

sábado, fevereiro 10, 2007


terça-feira, fevereiro 06, 2007

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entre
por entre
as reticências

segunda-feira, fevereiro 05, 2007

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Tudo parece ter outra vez começado. Quando
- a cabeça encostada à morte que a perder de vista
crescia - este homem estancado reconheceu o seu nome
pelo vento desenhado com os gravetos pobres
naquela que julgara ser a última parede do labirinto:
Já ali estivera. Ouvia outra vez a linguagem:
a montanha; desde sempre a linguagem - e era um mar
nascendo no visível do outro lado: o som do verde.

Recomeçou: retrocedendo, internou-se outra vez
no poema [...]

[manuel gusmão]

segunda-feira, janeiro 22, 2007

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[foto de cindy sherman]

[...] pergunto-lhe, miss rose, quer repetir o que diz? traz uma folha acima, para o silêncio, não? e finge um crochet de luz para onde o olhar trespassa o horizonte, nós, miss rose, nós para as imagens, feridas de agulhas no centro da cor que, refúgio? se torna tela, miss rose? miss rose? where to?

terça-feira, janeiro 16, 2007

.:
[...]
Representa uma barreira de luz independente -
a pessoa: ilha emigrada, trabalho explosivo e negro.
Então o clima pensa, os centros saem, o lugar dificulta-se
com água.
[...]














[...]
Representa uma fotografia que se insurge: violenta,
branca.

[herberto helder]

quinta-feira, janeiro 11, 2007













.

[...]


Acho que tanta noite é vir assim
para conseguir a sombra adentro do firmamento.

quarta-feira, janeiro 10, 2007


















Por trás da casa, atrás de nós, o húmido marulho
de pássaros frágeis que destecem a sombra.


A teu lado, o corpo de quem te convida
à manhã do mundo.



[Manuel Gusmão; Foto Francesca Woodman]

quinta-feira, janeiro 04, 2007

.


















fotografia de "os rumores dos objectos - alma e adereços de Al Berto

quinta-feira, dezembro 21, 2006

[a B.]

30

Já a luz se apagou do chão do mundo,
deixei de ser mortal a noite inteira;
ofensa grave a minha, que tentei
misturar-me aos duendes na floresta.
De máscara perfeita, e corpo ausente,
a todos enganei, e ninguém nunca
saberia que ainda permaneço
deste lado do tempo onde sou gente.
Não fora o gesto humano de querer-te
como quem, tendo sede, vê na água
o reflexo da mão que a oferece,
seria folha de árvore ou sério gnomo
absorto no silêncio de uma rima
onde a morte cessasse para sempre.

[António Franco Alexandre]

terça-feira, dezembro 19, 2006

Herberto Helder
(a carta da paixão)


Esta mão que escreve a ardente melancolia
da idade
é a mesma que se move entre as nascenças da cabeça,
que à imagem do mundo aberta de têmpora
a têmpora
ateia a sumptuosidade do coração. A demência lavra
a sua queimadura desde os seus recessos negros
onde
se formam as estações até ao cimo,
nas sedas que se escoam com a largura
fluvial
da luz e a espuma, ou da noite e as nebulosas
e o silêncio todo branco.
Os dedos.
A montanha desloca-se sobre o coração que se alumia: a língua
alumia-se: O mel escurece dentro da veia
jugular talhando
a garganta. Nesta mão que escreve afunda-se
a lua, e de alto a baixo, em tuas grutas
obscuras, essa lua
tece as ramas de um sangue mais salgado
e profundo. E o marfim amadurece na terra
como uma constelação. O dia leva-o, a noite
traz para junto da cabeça: essa raiz de osso
vivo. A idade que escrevo
escreve-se
num braço fincado em ti, uma veia
dentro
da tua árvore. Ou um filão ardido de ponto a ponta
da figura cavada
no espelho. Ou ainda a fenda
na fronte por onde começa a estrela animal.
Queima-te a espaços
a desarrumação das imagens. E trabalha em ti
o suspiro do sangue curvo, um alimento
violento cheio
da luz entrançada na terra. As mãos carregam a força
desde a raiz dos braços a força
manobra os dedos ao escrever da idade, uma labareda
fechada, a límpida
ferida que me atravessa desde essa tua leveza
sombria como uma dança até
ao poder com que te toco. A mudança. Nenhuma
estação é lenta quando te acrescentas na desordem, nenhum
astro
é tão feroz agarrando toda a cama. Os poros
do teu vestido.
As palavras que escrevo correndo
entre a limalha. A tua boca como um buraco luminoso,
arterial.
E o grande lugar anatómico em que pulsas como um lençol lavrado.
A paixão é voraz, o silêncio
alimenta-se
fixamente de mel envenenado. E eu escrevo-te
toda
no cometa que te envolve as ancas como um beijo.
Os dias côncavos, os quartos alagados, as noites que crescem
nos quartos.
É de ouro a paisagem que nasce: eu torço-a
entre os braços. E há roupas vivas, o imóvel
relâmpago das frutas. O incêndio atrás das noites corta
pelo meio
o abraço da nossa morte. Os fulcros das caras
um pouco loucas
engolfadas, entre as mãos sumptuosas.
A doçura mata.
A luz salta às golfadas.
A terra é alta.
Tu és o nó de sangue que me sufoca.
Dormes na minha insónia como o aroma entre os tendões
da madeira fria. És uma faca cravada na minha
vida secreta. E como estrelas
duplas
consanguíneas, luzimos de um para o outro
nas trevas.

segunda-feira, dezembro 04, 2006

era uma história.
era uma cidade.
eles eram a noite embargada em sono
para ser urgente
sem que a vida se encolhesse nas pálpebras
para que se olhassem.

na verdade,
eles
preferiam a invisibilidade da música.

era o roubo da noite para que a assinatura dos rostos
fosse irreconhecível,
sem vestígios.
falsificavam tratados de amor.
eram clandestinamente românticos.

era um sítio.
uma película dentro do sítio.
era a distância levada à boca
cada vez mais e em pouco tempo
para falar de um silêncio indefinido .
espiava-os o grito por dentro das lâminas
deixadas em aberto,
à beira das mesas, como frases soltas.

havia cortes implacavelmente incertos na palma das coisas e
eles olhavam para fora das mãos os gestos em sangue.

era uma história entre becos.
era uma cidade entre palavras.
eram eles.
éramos nós.

sexta-feira, dezembro 01, 2006

estou de janelas viradas para a conclusão
de uma qualquer eternidade.

quero a outra cinematografia: por fora dos ecrãs
- para dentro dos abraços -

encontro o rio.
no avesso do rio, a luz mais etílica.


+


falta-nos água para crescer
para dentro das margens, abro-te

como se abrisse uma fronteira
entre os corpos possíveis de um acidente

morremos de tantos rios,
morremos de tantos nós


+


um corpo a flutuar
para escrever: postal


+


Habeas corpus

RESSACA PARA UMA AUTOBIOGRAFIA
Al Berto
Permaneço deitado, ignoro o dia, não me mexo, recuso-me a pensar. Durmo como se nunca mais acordasse, e ao acordar já é novamente noite. Como abundantemente, fumo muitos cigarros e bebo pelo menos meio litro de café. Mas, apesar de tudo, e com a prática de muitas ressacas, nem sempre consigo evitar a dor provocada por essa outra ressaca - a ressaca mental. Sempre bebi em quantidade, violentamente, para perder, a noção de mundo, e do mundo. Nunca bebi dramaticamente. E no dia seguinte a ter bebido muito, é como se os sentidos e a memória tivessem sido passados a esfregona e lexívia. E dos sentidos surgem então sensações estranhas. Por exemplo,um orgão qualquer desata a arder, ou perco a visão - cego por instantes, e sou obrigado a tactear-me para me para me certificar que existo. Nada disto é agradável ou desagradável, é um outro estado de singular lucidez que pode prolongar-se horas a fio entre uma espécie de escuridão primordial e a fulguração dum tempo ainda por vir, ou já eterno. Fico assim, perdido no fundo de mim mesmo, sem nome, sem olhar para o que me rodeia, sem corpo que me transporte, sem pensamentos. Quanto à memória, é terrível. Umas vezes vai buscar imagens distantes de acontecimentos que, em geral, ainda virão a suceder. Outras, pura e simplesmente não há memória de nada. Um pouco como se tudo começasse a ser a cada fracção de segundo, e levo um tempo infinito, desumano, para erguer de novo, peça a peça, o que sou. A embriaguez é um momento de vida incendiada, ou suspensa, e a ressaca um tempo de lenta e demorada reconciliação com o mundo, e comigo mesmo. Mas um dia, tenho a certeza, não terei forças para me reconciliar com o mundo, nem vontade de regressar de onde estiver. Continuarei a beber ininterruptamente e não haverá mais ressaca, nem dor. Seduz-me a ideia de vir a morar num corpo que já não sente, etílico talvez, transparente, e com uma leveza de cinzas.
FIM

segunda-feira, novembro 27, 2006

Não resistia à força do corpo que não despias, à força que me tornava minúsculo, sujeito à ortografia das avalanches. Soterrado à tua caligrafia. Sem espaço para dizer, eu isto, eu e isto, mais coisa menos coisa, entre amplexos de uma arritmia que falaria do lado ventrículo do meu coração. A boca fechada, isso, muito fechada para eu ser sinceramente cru e raso, como quando o teu beijo - um dilúvio da estranheza fluvial que surgia no ambulatório dos lábios - era desprevenidamente o aqueduto das coisas. E a tua força a desatar botões, os fechos cerrados da tua roupa a querer rasgar a pele que eu, eu e mil a mais em redor do teu desejo, sofríamos com uma multidão viva encostada ao pescoço. E as tuas mãos a sofrer na jugular interdita dos acasos, que não podias vir do acaso como quem estaria ausente, porque tu não detinhas a força acumulada das barragens - no trânsito dos dias. E quanto mais, quanto mais cosias as costuras por cima dos poemas, mais eu sangrava, com muito sangue pelas avenidas dos silêncios póstumos - das palavras escritas.

domingo, novembro 26, 2006

you are welcome to elsinore

Entre nós e as palavras há metal fundente
entre nós e as palavras há hélices que andam
e podem dar-nos morte violar-nos tirar
do mais fundo de nós o mais útil segredo
entre nós e as palavras há perfis ardentes
espaços cheios de gente de costas
altas flores venenosas portas por abrir
e escadas e ponteiros e crianças sentadas
à espera do seu tempo e do seu precipício

Ao longo da muralha que habitamos
há palavras de vida há palavras de morte
há palavras imensas, que esperam por nós
e outras, frágeis, que deixaram de esperar
há palavras acesas como barcos
e há palavras homens, palavras que guardam
o seu segredo e a sua posição

Entre nós e as palavras, surdamente,
as mãos e as paredes de Elsinore

E há palavras nocturnas palavras gemidos
palavras que nos sobem ilegíveis à boca
palavras diamantes palavras nunca escritas
palavras impossíveis de escrever
por não termos connosco cordas de violinos
nem todo o sangue do mundo nem todo o amplexo do ar
e os braços dos amantes escrevem muito alto
muito além do azul onde oxidados morrem
palavras maternais só sombra só soluço
só espasmo só amor só solidão desfeita

Entre nós e as palavras, os emparedados
e entre nós e as palavras, o nosso dever falar


[Mário Cesariny]
1923-2006

quarta-feira, novembro 22, 2006

Há uma tela a cair a meio da sala. A cair a meio do instante em que se pousam os relógios para entrar em casa. Atravessar a casa e sair à rua para entrar por dentro dos quartos, na imagem demorada da tela. Haver gente a mais por fora das gavetas, a transportar o ruído para dentro das margens que eu encerro na cama. A tela far-se-ia jangada para que o tecto fosse o rio, e eu acima, ao escrever que de cima do rio flutuo em cima da cidade que arde dentro da tinta. Sair do quarto, cair a tela e ser o chão ao levantar de um tremor definitivo a raiz que sobreveio à chama. A tela arde quando entrar de súbito ou demasiadamente devagar faz da casa um sopro. E não há ninguém ou chegam repentinamente. Abro a porta, e a tela cai, a tela a cair dentro do ruído e na imagem, o ruído a fazer de morada. Demorada.

SAIU PARA A RUA
EMBRENHOU-SE NA ESPESSURA DA NOITE
AMOU E TRAIU
SEDUZIU E DEIXOU-SE SEDUZIR
MORREU UM POUCO TODAS AS MANHÃS
E NUNCA MAIS REGRESSOU
AO QUE TINHA SIDO


[Al Berto]

sexta-feira, novembro 17, 2006

Haveria um grande espaço para percorrer [n. enlaça a velocidade do impossível enquanto olha a mão direita tremer na curvatura da carta], uma grande viagem entre pedaços de percursos a fazer de coração, a uni-los entre as mãos para fazer as margens [n. tem um rio que sai da boca em função dos barcos que se afundam] e casas, mil casas nas pessoas que o habitariam e acenderiam as portas de repente para sair dos espelhos. [n. pensa que entre as molduras e as fotografias nas molduras perdeu-se o espaço para as lágrimas]. Haveria todo esse espaço e uma calçada a fazer de eléctrico para se chegar devagar ou então uma velha descalça no chão que nunca conheceria da angústia [n. diz que não conheceu os avós do seu medo e que seria pai de si mesmo para o reconhecimento do futuro]. Haveria uma mesa no deslumbramento de mães e pais, em cima da criança que não era, para que se amparassem os candelabros em torno dos braços e se dissesse alguma coisa verdadeiramente luminosa [n. ainda guarda o rascunho de vergonhas cosidas a uma infância sem talento].
Esse espaço teria um banco em cima do chão, uma janela por debaixo da chuva e um homem. [n. tem uma cicatriz em redor da cicatriz que em redor da ferida que em redor...]

terça-feira, novembro 14, 2006

segunda-feira, novembro 06, 2006

Trazes a devolução do corpo em troca da vida. Pouco importa que na morte se habite tanto. Aqui há escadas e o soro tranquilizante da noite. O anonimato é a única dor possível. Pouco importa que ninguém te chame. Afinal, o sémen desce pelas mãos e procura uma flor e que essa flor esteja morta, pouco importa. Aqui não há portas nem janelas, a identidade é um jogo de impunidades. O corpo é lançado nas ardósias do sono e pouco importa o sangue na boca e o suor na importância das coisas, porque aqui, afinal, é na morte que se habita tanto.

sexta-feira, novembro 03, 2006

o coração travado perto da boca:
a teia traz da fome um coração aracnídeo.
enche-se de berços para que se inocente do teu parto,
o coração usa um dedo na ferida para que grites.

o coração cala-se para que nada mais se escreva.

domingo, outubro 29, 2006

Undenied,Totally.
[...]
Now that I've found you,
And seen behind those eyes,
How can I, Carry on.

]portishead[

quarta-feira, outubro 18, 2006

Sede e procuro a água mais salgada onde
a sede seja maior, eu que acordo tanto
de tanto estar por fora do mar das coisas,
dentro no barco dos olhos que vêem
de longe os corpos tão próximos,
as mãos tão unidas em nós desatados,
que agarram os livros e as costuras dos
livros
para os arderem de novo no fundo da casa.

O fogo
[e a sede que o fogo amamenta
na insónia da água salgada]
torna-se doce quando a chuva cresce
por dentro das casas.
É ver-me ateando a madeira quando faz o teu
frio
e soprar a manhã para dentro do corpo fazendo mais
lume.

Quando a chuva cresce por dentro das casas
a sede, mais sede que vem por arder, é chão,
e os passos caem da boca como se o sal
também crescesse
e o chão também falasse
e nada do que eu digo,
da minha boca como chão,
do sal como sede,
dos passos como casas,
nada onde acorde tanto de estar tão pouco por dentro das coisas,
nada tem tanto o teu frio.

segunda-feira, outubro 09, 2006

[…]

depois
um rapaz apareceu a uma esquina e reconhecia-te
uma voz gravada na memória acompanhava-nos
quando nos dirigimos um para o outro
em câmara lenta

ouvíamo-la sussurrar: procuro-te
no interior das penumbras no esquecido sal
das casas abandonadas à beira-mar
procuro-te no perfume excessivo do mel
armazenado pelas abelhas no entardecer das pálpebras

[…]

veio-me do fundo da idade o momento em que nos conhecemos

[…]

não tinha sentido pensar em ti e não sair a correr pela rua
procurar-te imediatamente
correr a cidade duma ponta a outra
só para te dizer boa noite ou talvez tocar-te
[...] e ter a certeza de que serias tu depois a procurar-me…


[Al Berto]

quinta-feira, setembro 21, 2006

Os
a
r
r
e
p
i
o
s
acham dentro de mim sempre o frio a postos.
O meu
v
a
z
i
o

é um grande esmagador, grande aniquilador.
o meu vazio é algodão e
s
i
l
ê
n
c
i
o

[henri michaux]

sábado, setembro 16, 2006

[
s
e
n
z
a

fine
]

domingo, setembro 10, 2006

Não penses que assim existes.
Atenta à tua volta no que outros te esquecem.
O que se esquecem nos navios embriagados de fumo não é a âncora destas tardes, são as tuas cinzas. O que pousa nos teus cigarros são os pássaros que as palavras adormecem nos ninhos de outras vidas.
Esta sala estava cheia, viste? Tristezas de Agosto por cima dos óculos, gestos nervosos em sorrisos de balcão, dívidas com a vida em listas de espera. A três mesas do teu silêncio, o rumor das páginas dentro das vértebras do mundo. O quotidiano impresso em boletins de última hora, informação exclusiva a papel químico. A dor custa apenas 60 cêntimos, mas pode variar consoante a qualidade do papel.

Esta sala estava cheia, viste? Mas não penses que assim existes. Se te demoras mais um pouco para que nas tuas costas se endireitem as carruagens de um desastre, posso dizer-te?

A sala está vazia.

sexta-feira, setembro 01, 2006

[...] nada do que existe para ser sentido neste mundo iguala
o poder da tua extrema fragilidade [...]

e.e. cummings





















[annette fournet]

quinta-feira, agosto 24, 2006

não entres por enquanto nessa noite escura
a única forma de te ser fiel é costurar a vida, lentamente pelo [Do] AVESSO da dor, inventar um peito onde possas deitar-te, cobrir com lençois grandes os espelhos a fim de que nada impeça o teu regresso.

Como não quis ver-te partir estarei aqui no dia de chegada.
antónio lobo antunes

quarta-feira, agosto 23, 2006

Encontramo-nos sempre no mesmo acaso.
Numa espécie de lugar.

E quando os olhos se cruzam num desafio e procuram a palavra? Que posso
dizer-te? E tu, que vens de mãos no abandono e que me podes dizer tudo,
nada dizes?

[Conheces algum silêncio mais alto que esta casa?]

[Ontem parei à tua porta e trazia-te flores]

É por isso que te escrevo, para que possas acontecer neste espaço em que não te reconheço. Para que seja possível veres que não existo. Sim, que não existo.

[Não sei, mas nunca chegaste a viver aqui. Eu nunca te trouxe flores.]

domingo, agosto 20, 2006

Uma feridinha de cacaracá

Não quero nada, deixem-me ficar assim um bocadinho que já
volto […] e num minuto ou dois levanto-me, torno a ser o que vocês conhecem e pronto, esqueçam-se, fico divertido outra vez, boa companhia, simpático mas não me peçam explicações, não perguntem o que foi, finjam que não notaram, entrou tudo nos eixos, palavra, sinto-me óptimo, como novo, capaz de cambalhotas, pinos, gracinhas, há alturas em que consigo ser divertido não é, a alma da casa, a alegria da família, a animação em pessoa mas por agora não quero nada, deixem ficar um bocadinho que já vou, não me espiem, não me observem, não se inquietem, façam de conta que não estou cá e não estou mesmo, a cabeça anda-me desconheço por onde, num lugar onde nunca fui e que parece uma praia dado que vejo andar, penedos, uns pássaros quaisquer, uma criança à beira-mar, sozinha […]

António Lobo Antunes

quinta-feira, agosto 17, 2006

o meu amor é uma navalha entre os dentes e
desse gume faço a absoluta certeza dos desastres.

se agora espero, espero por mim.


josé agostinho baptista

quarta-feira, agosto 16, 2006














Happy Together, Wong Kar-Wai

domingo, agosto 06, 2006

a nossa violência era tão sólida,
perto do coração,

repetíamo-nos nas mãos,
os braços esquartejavam o silêncio
e arremessávamos as sombras até que todo
o sangue fosse uniforme
e a dor só uma...

o nosso amor matava,

era uma ferida na roupa
e mentíamos com frio,

recuávamos no terror que nos trazia próximos,
a luz era cega
e fazíamos um cásulo de noites cada vez mais tristes.


a intimidade do nosso colo era cada vez mais frágil.

a nossa violência era um acto de repúdio
por sermos tão possíveis.

por não acontecermos.

sexta-feira, agosto 04, 2006

Aunque mi vida esté de sombras llena
No necesito amar, no necesito
Yo comprendo que amar es una pena
Y que una pena de amor es infinita

Y no necesito amar - tengo vergüenza
De volver a querer lo que he querido
Toda repetición es una ofensa
Y toda supreción es un olvido

Desdeñosa, semejante a los dioses
Yo seguiré luchando por mi suerte
Sin escuchar las espantadas voces
De los envenenados por la muerte


Lhasa, Desdeñosa

terça-feira, agosto 01, 2006

O REGRESSO

Tinha sido preciso aquela longa viagem
para entender que a realidade é mais do que o sonho,
mesmo bem mais do que o sonho.

Milan Kundera em A Insustentável Leveza do Ser

sexta-feira, julho 21, 2006

sexta-feira, julho 07, 2006

Desse teu lado,

era outra a caligrafia encriptada dos dias sendo reescrita pelo mistério do teu azul.

quinta-feira, julho 06, 2006

Vou falar do tempo:

deste lado, é de domingos que se demora a invenção de outra semana.

segunda-feira, junho 26, 2006

T R Í P T I C O D O E S Q U E CI M E N T O

III


A minha figura é esquerdina.

Situa-se na tua mão, por dentro do nervo que se tornou prosa,
pela erosão de um verso que se antagoniza com o seres secreto.

sexta-feira, maio 26, 2006

O FILME VAI FICAR ASSIM. TERMINADO.

"[...] ao mesmo tempo que já não te amo não amo mais nada, nada, só a ti, ainda [...]
[...] já não sei onde estamos, em que fim de que amor, em que recomeço de outro amor, em que história nos perdemos [...]
[...] é através desta ausência do teu sentimento que reencontro a tua qualidade, essa, precisamente, de me agradares. Penso que apenas me interessa que a vida não te deixe, outra coisa não, o desenvolvimento da tua vida deixa-me indiferente, não pode ensinar-me nada sobre ti, só pode tornar-me a morte mais próxima, mais admissível, sim, desejável. É assim que permaneces face a mim, na doçura, numa provocação constante, inocente, impenetrável.

E tu não sabes. "

FIM


Marguerite Duras, O Homem Atlântico

sábado, maio 20, 2006

sei bem que não mereço um dia
entrar no céu
mas nem por isso escrevo a minha casa
sobre a terra.

Daniel Faria



















Foto Kamil Vojnar

segunda-feira, maio 15, 2006

I lost myself on a cool damp night
Gave myself in that misty light
Was hypnotized by a strange delight
Under a lilac tree
I made wine from the lilac tree
Put my heart in its recipe
It makes me see what I want to see...
And be what I want to be
When I think more than I want to think
Do things I never should do
I drink much more that I ought to drink
Because it brings me back you...

Lilac wine is sweet and heady, like my love
Lilac wine, I feel unsteady, like my love
Listen to me... I cannot see clearly
Isn't that she coming to me nearly here?

Lilac wine is sweet and heady where's my love?
Lilac wine, I feel unsteady, where's my love?
Listen to me, why is everything so hazy?
Isn't that she, or am I just going crazy, dear?

Lilac Wine, I feel unready for my love...

segunda-feira, maio 08, 2006











RECONSTRUÇÃO


terça-feira, maio 02, 2006

.
Poderia ter escrito a tremer de respirares tão longe

Ter escrito com o sangue.
.
Daniel Faria
de Antemanhã

quarta-feira, abril 26, 2006


à sandra

(acordas...imensa, a vertigem lancetada da manhã...)

tremes, íntima,
à vergonha da nudez,
aflita à penetração antiquíssima do tempo
e delicadamente alta...
funda e fulgurantemente
pictórica,
ergues-te, simétrica,
ao deslumbramento das
nossas espécies...
prossegues,
volátil como a seda de um Outono
pela profusão das longas teias dos teus seios...
e enredas-te,
hasteada à luminosidade dos mitos,
pela imaginação das cores...

(acorda... e, subitamente, saberás ainda que dormes profundamente esquecida...)
.
.
revisitação em 2006...
quadro: INGENUIDADE em www.derme.blogspot.com

terça-feira, abril 25, 2006

.

:
"Parece que existe no cérebro uma zona específica, a que poderíamos chamar de memória poética, que regista o que nos encantou, o que nos comoveu, o que dá beleza à nossa vida. Desde que Tomás conhecera Teresa, nenhuma outra mulher tinha o direito de deixar a sua marca, por efémera que fosse, nessa zona do cérebro. Teresa ocupara como déspota a sua memória poética e dela varrera todas as outras mulheres. Não era justo porque, por exemplo, a rapariga com quem fizera amor no tapete durante a tempestade não era menos digna de poesia do que Teresa. (...) Em outras palavras, ela batia nas grades da sua memória poética. Mas as grades estavam fechadas. Não havia lugar para ela na memória poética de Tomás.
Só havia lugar para ela no tapete."


Milan Kundera (A Insustentável Leveza do Ser)

sábado, abril 15, 2006

























Celos
pudo el amor ser distinto
redes
trampa mortal en mi camino
y en un café , un café de ciudad
me contaste otra vez tu destino

Celos
celos en suelo argentino
fiebrey mi ilusión que se deshizo
mientras te burlas de mí en tu canción
no me puedo librar del hechizo

Nubes
nubes de sal y de hastío
dudas
pago por ver lo que he perdido
la capital te atrapó, te embriagó
en el triste ritual del olvido.

Mmm
pudo el amor ser distinto
mmm
crudo final discepoliano
y en un café,
un café de verdad
cayó el último acorde del piano


GOTAN PROJECT
CELOS

sexta-feira, abril 14, 2006

















...como se de mim para ti ainda a intangível matéria dos labirintos criasse caminhos de uma permanência suprema, de onde nunca saio…
...a profunda insensatez do eterno retorno…E regressamos sempre,
Inevitavelmente sempre,
Às primeiras linhas das histórias de amor,
Simplesmente,
Porque não existem finais felizes

domingo, abril 02, 2006


ASSINOU-SE A NOSSA ÚLTIMA FOLHA,


É A PARTIDA DAS BORBOLETAS.

Henri Michaux

sexta-feira, março 24, 2006


há entre nós o segredo violento do esquecimento.

sexta-feira, março 17, 2006


Ruína
Federico García Lorca

Pelos vidros partidos da casa
o sangue desatou os seus cabelos.
Tu e eu ficamos.
Prepara o teu esqueleto para o ar.
Eu só e tu ficamos.
Prepara o teu esqueleto.
Há que buscar depressa, amor, depressa,
nosso perfil sem sono.



quarta-feira, março 15, 2006


saúdo-te completo à perplexidade da dissolução.

sexta-feira, março 10, 2006













- o paraíso sabe-se que chega a lisboa na fragata do alfeite. basta pôr uma lua nervosa no cimo do mastro, e mandar arrear o velame.

é isto que é preciso dizer: daqui ninguém sai sem cadastro.


AL BERTO

domingo, fevereiro 26, 2006

quinta-feira, fevereiro 23, 2006

Composição de Lugar
RUY BELO


[...] Pétala a pétala chego à corola desta minha hora
Roubo o meu ser a qualquer outro tempo
não há em mim memória de alguma morte
em nenhum outro lugar me edifiquei
Arredondas à minha volta os lábios para me dizer
recuo de repente àquele princípio que em tua boca tive
EU SEI QUE SÓ TU SABES O MEU NOME
TENTAR SABÊ-LO FOI AFINAL O ÚNICO
ESFORÇO IMPORTANTE DA MINHA VIDA
Sinto-me olhado e não tenho mais ser
que ser visto por ti. Há no meu ombro lugar
para o teu cansaço e a minha altura é para ser medida
palmo a palmo pela tua mão ferida.

quarta-feira, fevereiro 22, 2006

Cartas a Sandra
Vergílio Ferreira


Hoje a obsessão foi mais forte. Escrever-te. A nossa história que contei parecia-me intocável. Princípio e fim de nós nela, a tua morte selara-a para sempre. E todavia é nessa eternidade que a tua memória me perturba e a imagem terna do teu encantamento. (...)Escrever-te. Possivelmente irei fazê-lo mais vezes até ver se no escrever se me esgota a tua fascinação. (...) Porque tu nunca foste real para eu te poder amar. E é essa irrealidade amada que estremece na minha comoção e no êxtase leve de te imaginar. (...) Na realidade nunca te esqueço no dia a dia que te esquece. Mas ficas um pouco ao lado, à espera de que eu volte de novo a olhar-te. É uma imagem fluida e intensa, essa que se me ergue sempre, e eu penso que possivelmente é a de quando te vi pela primeira vez. Mesmo que não fosse a primeira e que estivesse então distraído do meu amor que passava em ti. (...) Às vezes eu pensava que tu não fazias ideia do incrível e maravilhoso de ti. Estavas dentro e o teu esplendor estava fora. Nesta casa deserta, como é bom estares aqui comigo. E falar-te. E escrever-te. E ver-te. VOLTAREI AINDA A AMAR-TE? VOLTARÁ O IMPOSSÍVEL DE TI QUANDO EU O EVOCAR? Escrever-te. E dizer-te tudo o que nunca deixaste que te dissesse (...) E é estranho como uma vida inteira se me resume a uma palavra. (...) E agora que tudo findou, penso que a perfeição do teu destino no meu seria ouvir-te ainda uma vez, de passagem, também te amo. Uma vez mais. Ainda. Assim eu escrevo para te demorares um pouco. Talvez voltes a dizer-mo. E eu a ti. (...)E eu suspendo a obsessão de te dizer todo o maravilhoso de ti, antes de te imaginar a breve ruga na face e ouvir-te dizer que tolice. Não digas. Se te sentasses aqui à braseira. E se te demorasses comigo um pouco e olhássemos em silêncio a grande noite que desce. Em silêncio. Não te dizer mais nada. E tomar-te apenas a tua mão franzina na minha. E sorrires.

Há o perigo de um grito lindíssimo
quando andas assim comigo no invisível


Mário Cesariny


terça-feira, fevereiro 21, 2006

Eu corro pela noite,
de linhas abertas ao espaço que dos parágrafos
sussura a história de um desastre,
reescrevendo transvertido o movimento das marés,
para que se afoguem, ao flutuar
de um fragmento de luz, os dedos, eu
corro pela noite sem entender a lapidação do meu silêncio
em redor dos gomos que se amarguram
na noctívaga acumulação das frutas,
na resplandecência animal das sombras,
na sede dos estuários, eu corro
pela boca da noite ao respirar dos seios outra voz,
para que de novo ressuscite o sangue coagulado
que atravessa dos olhos a imagem,
mortas as tuas mães ardendo etéreas por detrás
do tempo, movendo um compasso
que te concebe, eu corro pela noite,
toda a noite, à noite inteiramente,
sem acordar.

segunda-feira, fevereiro 20, 2006

Há qualquer cidade possível no entardecer da loucura.
Desarrumo o equilíbrio dos passos na quase queda do teu pássaro tardiamente aflito e o dia desalinha-se na toponímia de um coágulo...

quarta-feira, fevereiro 15, 2006

com todas as ideias da minha cabeça
ponho-me no silêncio dos teus lábios.
molda-me a partir do céu da tua boca porque
pressinto que posso ouvir-te no firmamento.

DANIEL FARIA

sábado, fevereiro 04, 2006

Mysteries of Love
ANTONY AND THE JOHNSONS
(Lyrics by David Lynch, Music by Angelo Badalamenti)

Sometimes
A wind blows
And you and I
Float In love
And kiss forever In a darkness
And the mysteries of love
Come clear
And dance
In light
In you
In me And show
That we Are Love
Sometimes A wind blows And you and I Float In love And kiss forever In a darkness And the mysteries of love Come clear And dance In light In you In me And show
That we Are Love

sexta-feira, fevereiro 03, 2006

HÚMUS
Raul Brandão

Bem te procuro encontrar no fundo do meu ser. Rebusco-te. Às vezes, nos momentos trágicos, já não é contigo que eu deparo - é com outro ser que assiste sempre, como um espectador, a todos os meus exageros. Deitavas-te comigo, levantavas-te comigo, ferrado como um punhal - e não existias. Neguei-te. Expliquei-te. Reduzi-te às tuas verdadeiras proporções - e tu não existias! Atormentaste-me e fizeste-me sofrer mesmo quando já compreendera que não existias. E agora mesmo, quando o universo é outro universo, ainda te escarniças sobre mim como um fantasma.

Escusas de te rir - TU NÃO EXISTES. Dependias da morte e o que eu tinha na realidade era medo. Talvez medo para depois da morte - medo da minha alma em frente da minha alma, medo de aparecer nu e com pústulas diante do que é eterno. Carreguei-me como um fardo inútil. Põe-me a questão, põe-me todas as questões que quiseres. Tenho diante de mim este mundo e esta voragem, este mundo e o nada. Não te metas de permeio, já que não tens razão de ser. Seria mistificação sobre mistificação. Não me atrever agora é o absurdo. Porque, consciência, o que me importa é a parte interior - é a verdade sós a sós comigo, fechado a sete chaves, e essa é temerosa. Não tentes iludir-me. Não podes mentir a ti mesmo [...] Agora sim - agora estou livre e atrevo-me. Para sempre livre da morte e livre do tempo, calco-te aos pés. Nenhuma sujeição. Nenhum temor, nenhum fantasma. Sem escrúpulos! Uma força entre forças e mais nada. O mundo pertence-me. Pertence-me e olho-o cara a cara sem desviar o olhar. Sou a única força consciente, sem palavras que me diminuam, nem escrúpulos que me contenham...

Agora fala! Aproveita o minuto único, a infâmia, o enxurro, o sabor a fel e lágrimas da vida, ou enfileira-te, se podes, no estúpido rebanho, e reentra na vida quotidiana, feita de pequeninas regras e interesses...

terça-feira, janeiro 24, 2006

OUT OF AFRICA

I'm glad you came...

To rose-lipped maidens.

There was a very young girlfrom Denmark...
who took passage on a steamerbound for Suez.

There was a storm..
.
off Morocco...
and she was washed ashore...
onto a beach.
Onto a
white beach.
Onto a beach so,so white...

I'd like to do that.

- Will that hurt?
- No.

If you say anything now,I'll believe it...

quarta-feira, janeiro 18, 2006

Surpreende-me o estrangular dos lábios quando te olho…

manhã a contra luz suspensa pelo teu quarto,
qualquer temor nocturno,
ontem esquecida a janela entreaberta…

a nossa urgência pelo chão…

quando te olho assim e todo o teu corpo pesa esse adeus,
sei que o silêncio estará profundamente em conseguir
outro passo sem olhar para trás…

o teu rosto inclinado…

e procuro pelas tuas rugas o desespero de uma virtude,
estreitar-te pelas mãos em tudo quanto de ti
seja mais que uma impressão…

o teu rosto naufragado na possibilidade de um incenso…

surpreende-me a fragilidade desse aroma em que te desarrumas,
encostado a uma serigrafia de flores…

a serenidade da tua geografia,
cúmplice na ferocidade que entre os teus braços dos mapas
arrebata essa distância…


Lyrics by Antony and the Johnsons Fistful of Love

Cover I am a Bird Now

I've got my heart Here in my hands now

I've been searching For my wings some time

I'M GONNA BE BORN INTO SOON THE SKY...

sexta-feira, janeiro 13, 2006

IF TRAVELLING IS SEARCHING
and home what's been found I'm not stopping I'm going hunting
I'm the hunter
I'll bring back the goods But I don't know when
I thought I could organize freedom
How Scandinavian of me You sussed it out didn't you? You could smell it

So you left me on my own
To complete the mission Now leave it all behind
I'm going hunting
I'm the hunter
I'm the hunter

I'm going hunting I'm the hunter I'm the hunter I'm the hunter

terça-feira, janeiro 10, 2006





Um beijo em lábios é que se demora
e tremem no abrir-se a dentes línguas tão penetrantes quanto línguas podem.Mais beijo é mais. É boca aberta hiante para de encher-se ao que se mova nela.


É dentes se apertando delicados.É língua que na boca se agitando irá de um corpo inteiro descobrir o gosto e sobretudo o que se oculta em sombras e nos recantos em cabelos vive.



É beijo tudo o que de lábios seja quanto de lábios se deseja.


JORGE DE SENA








segunda-feira, janeiro 09, 2006



Once I wanted to be the greatest
No wind or waterfall could stop me And then came the rush of the flood The stars at night turned you to dust
Melt me down
To big black armour
Leave no trace
Of grace Just in your honor Lower me down
That corporate slob
Make a watch
For a space in town
For the lack of the drugs
My faith had been sleeping Lower me down In the end Secure the grounds
For the later parade
Once I wanted to be the greatest
Two faced, sad little rock
When things I couldn't explain Any feelings Lower me down In the end
Secure the grounds
For the lack of the drugs
My faith had been sleeping
For the later parade
Once I wanted to be the greatest
No wind or water fall could stop me
And then came the rush of the flood
The stars at night turned you to dust
CAT POWER




Your Cloud


where the river cross
crosses the lake where the words jump off my pen and into your pages do you think just like that you can divide this
you as yours me as mine to before we were us
if the rain has to separate from itself does it say "pick out your cloud?"
pick out your cloud

if there is a horizontal line that runs from the map off your body straight
through the land shooting up right through my heart

will this horizontal line when asked know how to find where you end where I BEGIN
"pick out your cloud"

how light can play and form a ring of rain that can change bows into arrows
(i found a thrill)
who we were isn't lost before we were us indigo in his own blue always knew this if the rain has to separate from itself does it say
pick out your cloud

TORI AMOS

terça-feira, janeiro 03, 2006

Eu corpo assim assinado
no traço rasurado de uma imagem
possível acaso
ilegível a manhã reconhecidos os quadros
há ainda os teus acrílicos azuis
nos céus despenhados que os meus olhos
não contêm...
Corpo agora murmura o irreconhecível
ao agitar dos relógios
cambaleando o tempo
enrolados os cabelos
toda a velha sombra se debruça
às varandas do teu gesto proibido
e parte confusa nas gôndolas da memória...
Eu corpo assim
desfeito pelo contar dos dedos
o momento
aceno dos desencontros
há que entender que também as mãos
se acendem pelas secretas noites
onde nos perdemos
e nos guiam pelas margens
a todos os lugares nenhuns...

quinta-feira, dezembro 29, 2005

Esquecer-te foi apenas afinal
Passo a passo
A estranheza do Inverno…